Alimentos Industrializados
19 cuidados na comunicação sobre alimentos processados/industrializados Alimentos Industrializados Não se deve usar os termos “processado” e “indus- trializado” como sinônimos de alimento ruim, pouco saudável, pouco nutritivo ou que contém muito açúcar, sal ou gordura Os significados corretos dos termos “alimento processa- do” e “alimento industrializado” são apresentados nas partes 6 a 9 deste trabalho. Praticamente, todo alimento consumido passa por algum tipo de processamento. Existem milhares de produtos processados e industrializados de diferentes tipos e composições diversas. Classificar todos como ruins é uma generalização que reforça uma visão preconceituosa e distor- cida desses produtos alimentícios. Algumas pessoas insistem em dizer que a “indústria de alimentos”, de forma generalizada, produz “alimentos não saudáveis”, também de forma generalizada. Não é adequa- da tal premissa, uma vez que existem milhares de empresas que produzem milhares de produtos diferentes dentro de uma mesma categoria. E dentro de uma mesma categoria, os diferentes tipos de produtos variam bastante quanto ao seu conteúdo de ingre- dientes, aditivos, calorias, gorduras, açúcar, sal e nutrientes. Mais sensato seria identificar quais empresas e quais pro- dutos estariam dentro das características que essas pessoas consideram não saudáveis, ou seja, ser específico. Além de tudo, esse tipo de afirmação esbarra na realida- de das estatísticas, uma vez que a maior parte dos produtos alimentícios industrializados é composta de carnes in natura, refrigeradas ou congeladas, leite fluido, pasteurizado ou UHT, farinhas, óleos e outros alimentos básicos que compõem a dieta nutritiva dos brasileiros. No caso específico da presença de aditivos, outro crité- rio proposto para identificar um alimento “ultraprocessado”, basta lembrar que, no Brasil, assim com em vários países, existe uma lista positiva de aditivos alimentares, que ado- ta nomenclatura técnica e que pode ser checada no website (http://portal.anvisa.gov.br/web/guest/alimentos ) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, instituição vincu- lada ao Ministério da Saúde. É equivocado avaliar a qualidade de um produto industri- alizado pela quantidade de ingredientes Alguns produtos apresentam uma longa lista de ingredien- tes no rótulo que costumam ser repudiados por ativistas. Mes- mo que seja possível formular produtos similares com menor número de ingredientes, todos os que estão presentes devem ter uma finalidade, caso contrário representariam um custo desnecessário para o fabricante. E não há base científica que sustente a afirmação de que um produto é ruim porque tem muitos ingredientes, ou ainda, pior, que este deve ser rejeita- do se tiver cinco ou mais ingredientes. Por outro lado, qualquer que seja a quantidade de ingre- dientes, ou o fato de a nomenclatura técnica destes ser pouco familiar, isso não interfere, necessariamente, em sua qualida- de ou saudabilidade, uma vez que todos os ingredientes uti- lizados nos produtos alimentícios processados são avaliados quanto à segurança para o consumo humano, com determi- nação de dosagens específicas para a sua aplicação indus- trial previstas em listas positivas aprovadas pelas agências reguladoras. É equivocado classificar a qualidade de um produto industrializado pelo seu grau de processamento Essa afirmação costuma ser feita por pessoas que ignoram a tecnologia de alimentos. Um mesmo tipo de alimento pode ser produzido de diferentes formas, assim como variam as receitas nas artes culinárias. A tecnologia de alimentos ofe- rece vários meios para a transformação de alimentos a partir de seu estado original, cuja escolha depende do fabricante, dos profissionais técnicos responsáveis, dos recursos de cada empresa e, principalmente, das finalidades dessa transforma- ção, como evitar que o alimento estrague ou se contamine, deixar o alimento o mais próximo possível do seu estado ori- ginal ou deixá-lo pronto para consumo após aquecimento em micro-ondas. A fabricação de hambúrgueres é um exemplo disso. Uma empresa pode somente moer a carne, resfriá-la e comercializá-la em embalagens com atmosfera modificada para preservar o frescor. Outra empresa pode temperar, assar, adicionar molho, queijo e acondicionar em embalagem para ser aquecida em micro-ondas. Não é correto confundir “produto” com “categoria”, isto é, afirmar que hambúrguer industrializado passa por muitas etapas de processamento. Convém ainda lembrar uma das conclusões de um amplo estudo que analisou a relação do grau de processamento com a composição dos alimentos pro- cessados, (EICHERMILLER et al., 2012): “Os determinantes mais importantes da qualidade da dieta são os tipos especí- ficos de alimentos consumidos e não o seu grau de proces- samento”. A preconceituosa forma de tratamento dos alimentos in- dustrializados no Guia Alimentar da População Brasileira e em diversas mídias tem reforçado o falso conceito de alimen- to “ultraprocessado”. As partes 3, 4 e 5 desvendam a fragili- dade dessa classificação e a sua inaplicabilidade prática para identificação de produtos específicos no varejo.
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