Alimentos Industrializados
22 a necessidade de melhorar a comunicação com o consumidor de alimentos e bebidas Alimentos Industrializados a) Do ponto de vista técnico, NÃO há classificação com base em graus de processamento Do ponto de vista dos processos industriais, não há fun- cionalidade em classificar alimentos em MAIS ou MENOS processados, nem considerar que um alimento processado é melhor ou pior que outro, com base nos tipos e nas eta- pas de processamento empregados na sua produção. Isso, porque os tipos e as etapas de processamentos utilizados DEPENDEM dos tipos de modificações a serem feitas nos alimentos originais, de modo a obter o produto desejado ao final da sequência de ações. Ou seja, o que determina o conteúdo, a qualidade e o valor nutricional do alimento processado é o resultado da receita adotada pelo fabri- cante, que pode variar muito de empresa para empresa, da mesma forma que pode variar nos lares e restaurantes, dependendo de quem prepara ou processa os alimentos. Apesar disso, a “classificação” NOVA pretende orientar a população a ter uma dieta saudável e nutritiva a partir da divisão dos alimentos e bebidas em quatro grupos, que, no entendimento de seus autores, são distintos quanto ao grau de processamento: Alimentos in natura ou minimamente processados; Ingredientes culinários processados (óleos, gorduras, sal e açúcar); Alimentos processados; Alimentos “ultraprocessados” (Figura 3.1). Porém, apesar de a ter- minologia utilizada aparentar que essas classes de alimen- tos se diferenciam conforme o seu grau de processamento, do ponto de vista técnico não estabelecem, efetivamente, uma hierarquia com base nesse critério. Existem apenas duas classes com referência ao grau de processamento, uma com graduação mínima (minimamente processados) e outra com graduação máxima (“ultraprocessados”). Mas o grupo de “Ingredientes culinários processados” não tem relação com o grau de processamento, como também não tem o grupo genérico de “Alimentos processados”. Uma breve análise à luz dos critérios utilizados por uma boa classificação já é suficiente para demonstrar as fragilidades da NOVA, uma vez que não há efetivamen- te uma hierarquia definida para as classes “ingredientes culinários processados” e “alimentos processados” quanto ao seu grau de processamento. Além disso, não estabelece com clareza a equivalência e as fronteiras entre as classes propostas, o que possibilita que os mesmos alimentos se alternem entre classes diferentes, a partir de pequenas va- riações em suas composições e formas de processamento. Em síntese, a NOVA não tem poder discriminatório capaz de agrupar produtos alimentícios semelhantes em classes distintas, de modo que essas classes sejam mutuamente excludentes, ou seja, de modo que os produtos agrupados numa classe não possam estar, ao mesmo tempo, contidos em outra classe. b) Do ponto de vista estatístico, NÃO há comprova- ção de que exista diferença significativa entre os conteúdos nutricionais de alimentos processados nos lares, restaurantes e indústrias Por mais que o preparo e realização de refeições na companhia de parentes e amigos possa promover o bem -estar comum, existem limitações de tempo, dinheiro, conhecimento, espaço e estado de ânimo, entre outros fatores comuns nas sociedades modernas, que levam as pessoas a optarem por refeições prontas e semiprontas, de forma esporádica ou habitual. No Brasil, existem mi- lhões de pessoas que trabalham em locais bem distantes de suas residências, o que inviabiliza voltarem para pre- parar o almoço em seus lares. Além disso, as jornadas de trabalho exaustivas e as longas horas para o retorno aos lares comprometem a disposição para preparar uma refei- ção fresca, por melhor que esta possa ser em relação às re- feições prontas. Existem milhares de pessoas que moram sozinhas, pessoas sem habilidades culinárias, sem condi- ções financeiras de manter ingredientes em estoque para preparar refeições completas, que preferem usar o tempo para lazer ou para outras atividades em vez de cozinhar, e outras várias situações que dificultam a meta de preparar uma refeição no ambiente doméstico. Para essas pessoas, a recomendação de preparar e tomar refeições em casa torna-se quase uma utopia. Não é possível afirmar que uma preparação culinária doméstica é muito mais balanceada nutricionalmente, em comparação com outra similar elaborada industrialmente. Seria necessária uma ampla análise estatística compara- tiva das composições de nutrientes de preparações do- mésticas e industriais, para coletar evidências suficientes para afirmar que os produtos industrializados são nutricio- nalmente desbalanceados em relação às preparações do- mésticas. Um tipo de estudo bem complexo considerando
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