7. ACV como Ferramenta do Gerenciamento Integrado do Resíduo Sólido (GIRS)
Centro de Tecnologia de Embalagem – CETEA / ITAL
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embalagens como “biodegradáveis”
1
confundindo o consumidor, fazendo-o pensar que esta seria uma
solução “fácil e perfeita” para o gerenciamento do resíduo de embalagem e que esta poderia ser descartada
em qualquer lugar, pois seu resíduo desapareceria do meio ambiente “como por mágica”.
A propaganda de que o uso de materiais degradáveis e/ou biodegradáveis é uma solução para a redução
do resíduo sólido também pode ter efeito negativo sobre a educação ambiental da população, quando induz
o consumidor a pensar que pode jogar o “lixo” em qualquer lugar, pois ele desaparecerá.
É importante ter ciência de que um material biodegradável não “desaparece” do meio ambiente (o que
muitas vezes a rotulagem faz o consumidor pensar), mas é transformado em, por exemplo, dióxido de
carbono (CO
2
) ou metano (CH
4
) contribuindo para problemas como o efeito estufa. Na natureza “nada se
perde, tudo se transforma”, ou seja, o que é um resíduo sólido pode transformar-se em emissões para o ar
e/ou para a água. A “desculpa” que se coloca de que as embalagens plásticas contribuem para a maior
impermeabilização do solo também deve ser bem analisada, mesmo porque uma das grandes diferenças
entre os aterros sanitários e os “lixões” (que diga-se de passagem, não deveriam nem existir) é a contenção
do resíduo sólido para que este (e seus sub-produtos como o chorume) não contaminem o meio ambiente
(lençol freático etc.).
Existem normas e métodos de ensaio para avaliar o potencial de, por exemplo, “biodegradação em meio
aquoso
2
”, para produtos como detergente, amaciante, xampú, etc., que certamente vão ser descartados nas
nossas pias domésticas e deverão ser submetidos ao tratamento biológico de esgoto. Estes métodos de
ensaio não podem ser confundidos com os das normas de compostagem num processo de revalorização de
um resíduo sólido através da desintegração da embalagem durante o tratamento biológico, a biodegradação
(com produção de CO
2
, CH
4
) etc. até o controle da qualidade do adubo composto resultante (EN 13432,
2000). Logo, soluções para o GIRS são diferentes das soluções de emissões para a água.
A figura 7.1 exemplifica o ciclo de vida de produtos alimentícios e suas embalagens, dando uma idéia do
conceito que deve embasar o GIRS. O objetivo é a otimização constante com base na ACV dos resíduos,
ou seja, a redução da disposição de resíduos (em aterros sanitários) ao mesmo tempo da minimização de
emissões para a água e ar, buscando transformar o resíduo em produto em outros processos produtivos, ou
seja, revalorizando os resíduos através da reciclagem, etc.
1 Mesmo que um país/região possua um programa de compostagem para revalorização dos resíduos biodegradáveis, ainda é
necessário pensar na “eficiência agrícola” para o uso do adubo composto resultante (produto final da revalorização via
compostagem). Em alguns países a compostagem funciona apenas como uma inertização do resíduo biodegradável, transformando,
por exemplo, restos de alimentos em resíduos denominados bio-estáveis, para, então, destiná-los a um aterro.
2 Existem normas internacionais para esta determinação, como por exemplo, a ISO 14851 (2003) e ISO 14852 (1999). Não se pode
comparar um resíduo de embalagem pós-consumo com detergentes, amaciantes, shampoo, etc. que certamente vão ser descartados
em pias e ralos domésticos e deverão ser submetidos ao tratamento de esgoto, logo, a biodegradação em meio aquoso é bastante
importante e, por este motivo, existem ensaios normalizados que avaliam esta biodegradabilidade. Ressalta-se que, mesmo um
material biodegradável em meio aquoso, quando descartado diretamente nos rios, irá contribuir para o aumento da demanda
bioquímica de oxigênio (DBO) do meio, o que pode afetar o equilíbrio ecológico desse ambiente.
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