Brasil
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2020
195
sustentabilidade & ética
Importante diagnóstico da situação atual de re-
síduos sólidos no País foi publicado no documento Re-
síduos Sólidos Urbanos e a Economia Verde (GARCIA,
2012b). Nesse documento são elencadas várias ações
prioritárias a ser desempenhadas ao longo da cadeia
produtiva:
• Ao poder público cabe prioritariamente a gestão dos
Planos Nacional, Estadual e Regional de Gestão In-
tegrada de Resíduos Sólidos, com ações prioritárias
para fechamento e remediação dos lixões, construção
de plantas de compostagem para tratamento dos re-
síduos orgânicos e construção de aterros sanitários.
• Ao setor privado cabe o desafio de desenvolver tec-
nologias que estendam a vida útil dos materiais pro-
duzidos e a utilização de materiais reciclados para a
confecção de novos produtos.
• Aos consumidores cabe a responsabilidade na sepa-
ração adequada do material orgânico do lixo reciclá-
vel, bem como alterar seus hábitos para um consu-
mo sustentável, revendo suas reais necessidades de
consumo.
A cadeia de logística reversa –
o
case
Tetra Pak
O estabelecimento da cadeia de logística reversa
não é uma tarefa simples e envolve muitos aspectos. Na
verdade, nos casos em que a utilização das embalagens
num segundo processo produtivo já assegura um retorno
financeiro para os agentes envolvidos, como no caso das
aparas de papelão ondulado e das latas de alumínio, o
retorno das embalagens pós-consumo já existe. Entre-
tanto, na maior parte dos casos, essa cadeia necessita
ser criada e estabelecida. Nesse sentido, a PNRS que
estabelece a necessidade da estruturação da cadeia de
logística reversa colabora para o retorno dos materiais
que, comercialmente, ainda não têm um valor agregado.
É de grande importância, entretanto, perceber que
a criação dessa cadeia não se dá de forma espontânea.
Sem a clara determinação do setor gerador em retornar
esses materiais ao ciclo produtivo, ou dar uma destina-
ção adequada, essa cadeia não se estabelece. Para que
a cadeia reversa seja real e possa ser mantida, deve ser
economicamente viável, ou seja, ela deve remunerar to-
dos os agentes envolvidos de forma adequada.
Essa percepção da necessidade de ir além dos
seus próprios portões foi percebida há bastante tempo
pela Tetra Pak, que é um ótimo exemplo de empresa que
conseguiu fomentar, incentivar e estabelecer a cadeia
da logística reversa das embalagens assépticas após o
seu uso. Essas embalagens para líquidos são constitu-
ídas pela combinação de três materiais: o cartão, que
confere a rigidez e a estrutura da embalagem, camadas
alternadas de polietileno (PE), que protegem o cartão da
umidade externa e também se constitui no material de
contato primário com a bebida líquida, e uma folha de
alumínio (Al), que preserva o aroma e a vida útil do pro-
duto, que atinge, no caso do leite, até seis meses. Esse
material multicamada é atualmente separado do lixo co-
mum (a taxa de reciclagem atual é de 28%) e o conte-
údo de fibras celulósicas recuperado em “hidrapulpers”
presentes em empresas recicladoras de papel. O resíduo
restante, composto basicamente de polietileno e alumí-
nio, atualmente é destinado para a fabricação de telhas
de PE/Al e para a fábrica EET-Brasil Alumínio e Parafi-
nas Ltda., em Piracicaba. Na fábrica EET, por meio de
um processo de plasma (~15.000
º
C), obtém-se alumínio
de alta pureza e o polietileno é transformado em para-
fina (VON ZUBEN, 2006). Estudos de ACV realizados
pelo CETEA atestam que a reciclagem traz benefícios
ambientais, mesmo considerando todas essas etapas
da cadeia reversa (MOURAD et al., 2008a e 2008b). A
criação dessa cadeia, exemplificada na Figura 7.23, foi
fortemente incentivada pela Tetra Pak, que procurou por
quase duas décadas tecnologias e parceiros que pudes-
sem tornar o reaproveitamento das embalagens assépti-
cas ambientalmente e economicamente viável. A criação
desses produtos valorizou as embalagens pós-consumo
em 79% no período entre 2004 e 2007, as quais atingi-
ram o valor de 120 euros por tonelada e passaram a ser
segregadas no lixo comum (ORSATO et al., 2007).
7.5 GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS & LOGÍSTICA REVERSA