Brasil
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2020
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sustentabilidade & ética
tinua até hoje a realizar estudos semelhantes. Tanto
a energia quanto a embalagem foram temas centrais
desses estudos em razão principalmente da crise do
petróleo e dos problemas crescentes de disposição
de lixo. No fim da década de 80, as empresas Proc-
ter & Gamble e Tetra Pak reuniram-se e contrataram
instituições de pesquisa (Battelle, Fraunhofer, EMPA,
CML) e grupos especializados em ACV (Franklin, Éco-
bilan) sob a coordenação da Society of Environmental
Toxicology and Chemistry (SETAC). Esse consórcio re-
sultou no estabelecimento da estrutura metodológica
da Avaliação de Ciclo de Vida. Em 1993, liderado pela
SETAC, iniciou-se o processo de padronização dessa
estrutura, com a publicação do documento A Code of
Practice, e a estruturação da metodologia ACV. O de-
senvolvimento da metodologia de impacto ambiental
CML, desenvolvida pelo Institute of Environmental
Sciences (CML), coordenada por Helias Udo de Haes,
permitiu transformar a ACV num poderoso instrumen-
to de avaliação ambiental de sistema de produtos. A
SETAC uniu-se ao United Nations Environment Pro-
gramme (UNEP) oficialmente em 2002, que auxiliou
na disseminação da metodologia de ACV ao redor do
mundo (KLÖPFFER, 2006).
Entre 1997 e 2000, a série de normas ISO
(14040, 14041, 14042 e 14043) foi publicada com
a finalidade de evitar o mau uso da metodologia de
ACV e estabelecer diretrizes para a harmonização dos
estudos. Em 2006, as normas foram revisadas e agru-
padas em apenas duas: a ISO 14040 e a ISO 14044.
A ISO 14040 descreve os princípios e a estrutura
dos estudos de ACV e a ISO 14044 descreve os re-
quisitos essenciais e as diretrizes a serem utilizadas
nesses estudos (ISO, 2006a e 2006b). Em 2009,
a tradução para o português da norma ISO 14040
foi publicada no Brasil como ABNT NBR ISO 14040
(ABNT, 2009).
Os princípios da metodologia de ACV
Os estudos de Avaliação de Ciclo de Vida per-
mitiram ampliar as discussões relativas às questões
ambientais antes limitadas a aspectos únicos como
consumo de energia, utilização de recursos renováveis
ou fósseis, reciclagem, biodegradação e/ou composta-
gem, dentre outros. Esses estudos dão uma nova di-
mensão aos debates, pois conseguem integrar diversos
aspectos ambientais em uma única unidade funcional
associada a um produto ou serviço. Em sua forma ide-
al, esse instrumento fundamenta-se numa contabilida-
de ambiental que se inicia e termina na natureza. Se-
gundo a norma ISO 14040, o termo Avaliação de Ciclo
de Vida é definido como a compilação e avaliação das
entradas e saídas e os potenciais impactos ambientais
de um sistema de produto durante todo o seu ciclo de
vida. O sistema de produto é definido por todos os pro-
cessos unitários com fluxos elementares e de produtos
que desempenham uma ou mais funções definidas, as
quais modelam o ciclo de vida de um bem material.
Contabilizam-se, por exemplo, os recursos natu-
rais que são consumidos ao longo de todas as etapas
do ciclo de vida do produto (inclusive transporte) para
a produção em questão como petróleo, água, madeira,
ocupação de terras, areia, minério de ferro, bauxita,
reservas de carvão etc. E, após a sequência de etapas
produtivas para a fabricação do produto em questão,
contabiliza-se o saldo do processo em relação ao que
o mesmo devolve para a natureza, seja sob a forma
de resíduo sólido, seja por emissão gasosa ou líquida.
Essa interface de avaliação produto/natureza permite
entender com maior profundidade o custo ambiental
da existência de qualquer produto (MOURAD et al.,
2002).
A Figura 7.4 é uma representação esquemática
das etapas incluídas numa ACV de embalagem, em que
as elipses representam os diversos processos produti-
vos unitários envolvidos no ciclo de vida da embalagem
e os caminhões significam as etapas de transporte de
materiais. Observa-se que a contabilidade inicia-se nos
recursos naturais consumidos para a obtenção dos pro-
dutos em questão: minério, petróleo, energia solar, gás
carbônico etc. Nessa representação, por exemplo, não
foram incluídas as etapas para a obtenção do produto
acondicionado, pois neste caso, o estudo se restringe a
uma ACV de embalagem.