4. ACV de Produtos Alimentícios
Centro de Tecnologia de Embalagem – CETEA / ITAL
34
Produção da
semente
Semeadura,
crescimento
do trigo e
colheita do
grão
Fertilizantes
Pesticidas
Secagem e
moagem do
grão e
produção
do pão
Outros
ingredientes
Embalagem
e distribuição
do pão
Embalagem
Consumo
Figura 4.1 - Fluxograma simplificado da ACV de produtos alimentícios (COWELL; CLIFT, 1997)
Como em todo estudo de ACV, o delineamento das cadeias produtivas em estudo é de fundamental
importância, pois norteia a definição das fronteiras do sistema em estudo e o dimensionamento da extensão
da amostragem para o levantamento de dados. Diferentemente dos ACVs de sistemas industriais, muitas
“entradas” têm origem na natureza como a energia solar ou o uso de terra.
Todos os dados do estudo de ACV estão relacionados a uma unidade funcional. Os estudos de ACV de
produtos alimentícios normalmente adotam a massa do produto em estudo como a unidade funcional, por
exemplo 1 kg de pão disponível para venda na padaria, 1 kg de atum acondicionado pronto para
distribuição, 1.000 kg de café disponível para venda na fazenda, etc. No entanto, a seleção da unidade
funcional dos produtos alimentícios não é óbvia uma vez que estes produtos têm diversas funções como,
por exemplo, valor nutricional (conteúdo nutritivo ou de fibras ou valor calórico), vida de prateleira, qualidade
sensorial, etc. Como o estudo de ACV é relacionado a apenas uma unidade funcional, as demais funções
são melhor descritas em termos qualitativos na fase de interpretação do estudo (MATTSSOM; SONESSOM,
2003).
A definição das fronteiras do sistema, ou seja, separar o sistema em estudo do meio ambiente natural, não
é uma tarefa muito clara quando está sendo considerada a agricultura, uma vez que o sistema produtivo
está inserido no meio ambiente natural. Uma das decisões a ser tomada diz respeito à inclusão ou não do
solo na fronteira do sistema. A fronteira temporal é outra escolha não muito clara: considerações sobre a
inclusão ou não da rotação de culturas no estudo ou mesmo se a avaliação deve abranger uma ou duas
safras são questões que precisam ser consideradas e estar bem definidas.
A alocação é uma questão bastante complexa em estudos de ACV de um modo geral. E no caso do ciclo de
vida de produtos alimentícios podem haver diversos processos multifuncionais, tais como a etapa agrícola, o
processo industrial, a etapa de distribuição e a etapa de consumo. Como exemplos, pode-se citar o gado
leiteiro que produz tanto o leite quanto a carne ou a cultura do trigo que produz o trigo e a palha, etc. Por
este motivo, é difícil dividir o sistema agrícola em sub-sistemas. Muitos produtos são obtidos
concomitantemente, como a produção do suco de laranja concentrado congelado que além do suco de
laranja também produz a ração animal e os óleos essenciais durante o processamento da laranja. Além
disso, se o produto é armazenado sob refrigeração, ele divide este impacto ambiental com os demais
produtos refrigerados. Existem diversos métodos de alocação, porém os mais utilizados baseiam-se na
massa, volume ou valor econômico do produto. Vale ressaltar que existe uma tendência em se adotar este
último critério nos estudos de ACV.
Quanto ao impacto ambiental da atividade agrícola relacionado com o uso de terra ainda não há uma
metodologia amplamente aceita. Uma vez que a ACV é uma metodologia que se baseia em fluxos de
material e de energia, é difícil vinculá-la ao impacto sobre a biodiversidade. Muitos estudos de ACV de
produtos alimentícios incluem como uso de terra somente a área necessária para a produção agrícola do
produto em estudo sem nenhuma correlação com a biodiversidade. Entretanto, o uso de terra é uma
questão vital nos estudos de ACV de produtos alimentícios, especialmente quando a agricultura é
considerada. Assim, segundo Milà i Canals
et al.
(2007) os futuros métodos de avaliação de impacto do uso
de terra deverão vincular o fluxo elementar do uso de terra e os aspectos ambientais registrados no ICV aos
aspectos de impacto na biodiversidade, no potencial de produção biótica e na qualidade ecológica do solo,
os quais eventualmente poderão ser associados aos danos causados ao meio ambiente e recursos
naturais.