Postado em 13/11/2008 00:00:00
#Um método de pré-processamento da semente de urucum com o objetivo de extrair o corante ainda na propriedade do produtor foi desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento), com a colaboração de profissionais do Instituto Agronômico de Campinas (IAC-APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento) e do Pólo Apta Centro Norte. O processo – que é estudado pelo pesquisador do ITAL Paulo Roberto Nogueira Carvalho, desde 2003 – usa água como solvente e apresenta diversas vantagens aos produtores e à indústria de corantes. O projeto, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), melhorou o rendimento da extração e teve diversos outros desdobramentos, que incluem uma reunião nacional da cadeia produtora de urucum e a publicação de um livro. Por dar origem ao corante mais utilizado no mundo, o urucum tem uma larga aplicação na indústria de alimentos, sendo empregado, por exemplo, na fabricação de laticínios, doces, massas, bebidas e desidratados. E, neste segmento, a tendência é de ampliação, já que há uma busca cada vez maior dos consumidores por alimentos que substituam os corantes artificiais por naturais em sua formulação. Além disso, nas indústrias de cosméticos e farmacêutica seu uso tem sido bastante difundido. O Estado de São Paulo, com destaque para a região da Alta Paulista, é o maior produtor da semente no País. E a idéia do projeto foi atuar justamente junto aos produtores, em sua maioria pequenos, no início do processamento que resulta na fabricação do corante. #O objetivo central foi, deste modo, elaborar um método de pré-processamento da semente para ser feito nos locais de colheita de urucum, por associações, cooperativas ou pelos próprios produtores. Esta extração simples resulta em um pré-corante que mantém a estrutura química original do pigmento para ser vendido para as indústrias de corantes. Hoje, a semente é transportada para as empresas e é lá que o pigmento é extraído. Coordenador do projeto, Carvalho explica as vantagens do novo procedimento. “Os produtores economizam no custo de transporte, já que o volume é muito menor, pois a semente vai ficar no campo; o que eles vão mandar para a indústria representa aproximadamente 10% do peso. Outra vantagem é que essa semente pode ser utilizada como alimentação animal no campo, principalmente na ração de galinhas poedeiras, que usa o corante residual das sementes para a coloração da gema do ovo”, revela. Há, ainda, benefícios ambientais. A metodologia desenvolvida emprega água como solvente, o que gera como resíduos do processo apenas a semente e água, que não causam prejuízos ao meio ambiente, ao contrário de outros solventes que poderiam ser adotados. E, se o pré-corante for armazenado em barris fechados ou desidratado, sob refrigeração, pode ter sua degradação – um dos grandes problemas de pigmentos como o presente no urucum – retardada. Isso viabiliza a possibilidade de comercialização do pré-corante na entressafra. Carvalho destaca, por fim, a conveniência para a indústria de corantes. A adequação que elas teriam que fazer, partindo da padronização, seria compensada pela eliminação do transtorno de ter que descartar o resíduo da extração. Embora o processo de pré-extração com água já tivesse sido desenvolvido em projeto anterior, ele foi aperfeiçoado no trabalho atual, etapa que contou com a colaboração do também pesquisador do ITAL Paulo Eduardo da Rocha Tavares. Antes, o rendimento da extração era prejudicado no caso de sementes com maiores teores de lipídios. Esta dificuldade foi sanada e o rendimento partiu de 60% de extração para valores superiores a 90%. Outro objetivo cumprido pela pesquisa foi a conservação, revitalização e caracterização quanto aos teores de óleo e bixina [corante presente na semente do urucum] da coleção de acessos de urucum mantida em Pindorama, pelo Pólo Apta Centro Norte. A coleção – que poderia ser desativada se o projeto não fosse realizado – conta, atualmente, com a curadoria da pesquisadora do IAC Eliane Gomes Fabri. Mesmo antes de sua conclusão, o trabalho gerou a realização da I Reunião Nacional da Cadeia Produtiva do Urucum, em dezembro de 2007. Nela, estiveram reunidos integrantes de diferentes elos da cadeia, os quais obtiveram informações sobre o manejo da cultura, controle de doenças e pragas e adoção de tecnologias para melhorar a qualidade do corante, entre outros temas. E, em fevereiro deste ano, foi lançado, no ITAL, o livro Urucum: sistemas de produção para o Brasil, iniciativa concebida na ocasião da reunião. Acerca dos próximos passos, Carvalho revela que será realizado um anteprojeto de aplicação industrial da metodologia de extração, a qual foi desenvolvida em escala laboratorial. Além disso, o desejo dos integrantes do projeto é disseminar os resultados junto aos produtores, para que eles possam se apropriar dos benefícios possibilitados por ele. Deste modo, o relatório final será divulgado como artigo científico e em eventos e os pesquisadores se colocam à disposição dos interessados. Material produzido pela Assessoria de Comunicação Foto: Antônio Carriero Mais informações: 19.3743.1757