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Notícia
Pesquisa com feijão – Reportagem do Globo Rural
Reportagem sobre o grão, veiculada no dia 15 de julho pelo programa Globo Rural, traz pesquisador do ITAL falando sobre a composição nutricional do alimento. Confira, abaixo, o texto na íntegra.

Postado em 20/07/2007 00:00:00

#Agora você vai ver uma reportagem bem arroz com feijão. Falando assim, você pode até pensar numa coisa banal, comum. Mas, não. A ciência vem descobrindo muita coisa sobre o feijão. Que o feijão é um alimento extraordinário não é novidade. Mas você sabia que ele ajuda a reduzir doenças do coração, diminui o risco de câncer no intestino e combate o colesterol? Veja a reportagem do Nélson Araújo. Quer cena mais familiar que o cheirinho do feijão no fogo tomando conta da casa? É a cara do brasileiro, assim como o samba, o futebol e a caipirinha, só que de feição rural. Tem gosto de roça. Roça que, devagarzinho, vem sendo gostada de novo. Assim como o feijão, cuja produção ficou na mesma por décadas e só agora volta a crescer. Em 2007, a produção é recorde: 3,7 milhões de toneladas. O que representa cerca de 19 quilos por pessoa ao ano. É mais do que em 2000, quando baixamos para 15 quilos por pessoa. Mas olha quanto era em 1960: o brasileiro comia 25 quilos de feijão por ano. Em 1950, chegava a 30 quilos. No histórico, o consumo caiu por vários motivos. Em primeiro lugar vamos lembrar da nova proteína que se popularizou nas últimas décadas, a carne de frango, que entrou um pouco no lugar do feijão. Também houve a mudança no estilo de vida. Mais mulheres trabalhando fora, o corre-corre exige comida de preparo mais rápido. Acabamos copiando hábitos da dieta européia e norte-americana, onde o feijão não tem esse destaque. E teve ainda o entendimento equivocado da vida urbana que se modernizava de que feijão não era chique, era coisa de jeca. Tanto que, até hoje, nos chamados restaurantes finos dificilmente você encontra um prato de feijão. Houve até propaganda contrária! Um livreto distribuído pela Bolsa de Cereais de São Paulo de 1958. O objetivo da publicação era ensinar o povo a comer melhor. Nele um nutricionista famoso na época diz que feijão é um alimento muito bom sim. Para dar para porco! Isso mesmo: “Feijão é uma leguminosa indigesta, excelente como planta forrageira, mas não como alimento humano”. E diz mais: “O feijão reduz a capacidade de raciocínio e que se há gente entre nós que produz pouco é porque são comedores de feijão”. Hoje, porém, a ciência traz um novo entendimento. Inúmeras pesquisas mostra que o papel do feijão vai muito além do combate à desnutrição. A doutora Neuza Brunoro Costa é da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais. Ela dá palestras mundo afora mostrando que o feijão é um alimento-remédio, que ajuda na prevenção e até cura de doenças. “Porque ele tanto atende e mata as carências nutricionais fornecendo nutrientes, calorias e proteínas. Como ele também tem propriedades muito importantes que podem ajudar a reduzir o colesterol, e de certa forma reduzir riscos dessas doenças. São doenças de coração, cardiovasculares, câncer, diabetes...“, diz ela. Mais tarde nessa reportagem a doutora Neuza explica direitinho como o feijão age no organismo. Agora veja como esse mercado vem se tornando exigente. Fomos a São Paulo na central de uma grande cooperativa, uma das maiores produtoras e distribuidoras de grãos do país. A carreta chega lotada. Imediatamente faz-se a calagem da sacaria. As amostras recolhidas vão para o laboratório. Lá o técnico Carlos Dias realiza uma bateria de testes. Depois, põe o feijão no fogo, como faz a dona-de-casa. Feijão cozido, ele sai do laboratório com a panela na mão. Passa pelo corredor de maquinário e vai até o escritório, chegando à sala de ninguém menos que o presidente da empresa, Jairo Quartiero. O presidente prova e então: “Ficou muito bom, parelho, uniforme, bom de paladar, bom de aroma. Essa está muito boa, está aprovada. A outra carga está reprovada”. É isso mesmo, produto fora do padrão é devolvido. “Tem produtos que são extremamente bonitos no visual, mas colocamos ele na panela e ficou desse jeito que nós vimos aqui. Isso vai desde a variedade da semente até o clima e o solo de onde ele foi plantado. A gente pega a mesma variedade e dão caldos muito distintos”, explica Jairo. Já houve casos de até cinco carretas serem recusadas num só dia, porque senão o consumidor vai recusar depois, porque com feijão a dona de casa só se engana uma vez. O brasileiro é enjoado mesmo para comer feijão. Nesse ponto ele não se contenta com pouco, faz questão dos mínimos detalhes. E, é claro, o pessoal da pesquisa tem que levar esse gosto em conta, como fazem os doutores Leonardo Melo e Maria José Del Peloso, responsáveis pelo setor de melhoramento de feijão da Embrapa em Goiânia (GO). “A exigência principal, sem dúvida, é pela cor do grão. E o brasileiro é regionalmente exigente”, diz a doutora Maria José. “Na região da zona da mata em Minas Gerais os consumidores querem um feijão que seja vermelho. Não basta apenas ele ser vermelho, ele tem que ter um brilho”, completa o doutor Leonardo. Nesse quadro de preferências, no Rio de Janeiro se destaca o feijão preto. Em Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso querem o rosinha, o roxinho, o jalo. No Nordeste gostam muito do mulatinho e, especialmente, do fradinho e do feijão de corda. Mas sobre todos, esparramado pelo país inteiro, prevalece o carioca, que representa 80% do consumo nacional. Por hábito, por intuição, por indicação de médicos, de nutricionistas o brasileiro sabe que o feijão é um alimento rico. Mas rico em que? Se é um dos tesouros da nossa dieta, que riqueza está guardada nele? Agora, digamos assim, vamos abrir a caixa preta do feijão. Você faz idéia de quantos componentes tem nesse grão? A resposta vamos saber no ITAL, o Instituto de Tecnologia de Alimentos, que em parceria com a Universidade de Campinas está montando a TACO, a tabela de informação nutricional que é a base daquele quadrinho que aparece nas embalagens de comida. No ITAL acompanhamos um verdadeiro raio X do feijão. O grão cru, primeiramente, é levado a um moedor. É triturado com casca e tudo. O que a gente vê a olho nu é o básico da composição, a mistura de água com carbono. São as fibras, os amidos, os açúcares, os óleos a formar os chamados hidratos de carbono, ou carboidratos. Um grão de feijão é 70% formado por carboidratos. Além do carboidrato, o que mais tem? Veja aí: o pozinho é diluído em várias soluções, assim o grão pode ser decomposto. Em balões de vidro a medição dos fluídos permite quantificar o tanto de proteína o feijão contém. E é bastante. “Os músculos são compostos, principalmente, por proteína. Nós vamos ingerir essa proteína, ela vai ser quebrada, transformada em aminoácidos, que são as unidades, os tijolos de uma parede. Se você fizer a analogia: a parede é uma proteína, então os tijolos são os aminoácido”, explica Eduardo Vicente, biólogo do ITAL. Depois, quando a gente voltar a falar com a doutora Neuza, vamos explicar melhor os aminoácidos. Continuando: num primeiro balanço podemos ver que, na média, em 100 gramas de feijão há 20 gramas de proteína, 60 gramas de carboidratos, incluído aí amido e açúcares, 16 gramas de fibra e 4 gramas de resíduos minerais. Bem, além das substâncias que podem ser quantificadas em grama, o feijão tem também outros importantes componentes, mas em porções ínfimas que só podem ser medidas de miligrama para baixo, são os chamados micro nutrientes. Acompanhamos também a separação dos minerais e das vitaminas. O pozinho moído de feijão é levado a um forno de alta temperatura. As cinzas analisadas nos aparelhos eletrônicos indicam que as vitaminas não o forte do grão. Mas ele fornece uma que é particularmente importante, a tiamina, ou vitamina B1, fundamental no crescimento das crianças. E quanto aos minerais? Veja aí alguns itens da tabela de minerais. Em 100 gramas de feijão, há 5 miligramas de ferro, 385 de fósforo, 210 de magnésio, 107 de cálcio, 2,5 de zinco, 0,8 de cobre, 27 microgramas de selênio. Parece pouco, mas é que o organismo precisa mesmo é de frações desses metais. Para resumir, somando tudo o que foi separado em laboratório, verificou-se que o feijão tem mais de 70 componentes. Fonte: www.globo.com/globorural