Postado em 02/04/2019 17:18:07
“Como podemos alinhar os objetivos empresariais com os objetivos dos stakeholders, como consumidores, organizações governamentais e até mesmo os ativistas?”, indagou o coordenador da Plataforma de Inovação Tecnológica (PITec) do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), Raul Amaral, durante seminário gratuito realizado pela instituição na Anufood Brazil, em São Paulo, com o objetivo de ampliar e sistematizar ações para promover o consumo responsável e a sustentabilidade do sistema alimentar. O questionamento é o ponto-chave do projeto Alimentos Industrializados 2030, desenvolvido pela PITec e que teve como primeira ação o seminário Alimentos 2030 com o lançamento do módulo “Iniciativas Empresariais” do site www.alimentosprocessados.com.br, destinado a abastecer a sociedade com informações sobre ciência e tecnologia de alimentos.
Para Amaral, é preciso atender as diretrizes nutricionais, sem preconceitos e alarmes que se tornaram políticas públicas, mas com uma visão científica, que esclareça o consumidor sobre o que de fato faz bem ou não, levando em consideração a genômica e a eficiência do sistema. O diretor de Assuntos Institucionais do Ital, Luis Madi, que mediou as discussões do seminário e ministrou palestra no congresso da Anufood, reforçou a importância da comunicação correta ao consumidor, dando como exemplo o descarte. “Talvez ele não tenha a conscientização sobre os cuidados que ele tem que ter para que a embalagem seja ou reutilizada, ou reciclada, e ter um destino que não seja lixo. E você não escuta isso em termos de políticas públicas. Onde está a informação ao consumidor?”, questionou.
As discussões foram fortalecidas pelos representantes da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa), da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e da Associação Brasileira de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi).
“Gostaríamos nós que todos pudessem ter acesso a hortaliças, verduras frescas, na porta das casas todos os dias, mas a logística não é real, não dá para fazer isso. Aí sim entra a indústria de alimentação para suprir essas lacunas”, explicou o presidente executivo da Abia, João Dornellas, destacando a importante participação do setor para a economia do País, que representa 25% da indústria brasileira e processa 58% do que o campo produz. “Essa indústria vendeu no ano passado R$ 656 bilhões. Isso significa 10% do PIB brasileiro. Essa indústria emprega diretamente 1,6 milhão de pessoas. Segundo o IBGE, para cada uma pessoa que está trabalhando na indústria de alimentação, estão outras quatro, cinco na média trabalhando indiretamente. Se você tomar a cadeia de laticínios como exemplo esse número vai para 11”, complementou.
O vice-presidente da Abir, Pedro Rios, considera que o diálogo e o esclarecimento são essenciais para a credibilidade do setor produtivo. “Você tem um modelo econômico que remunera e incentiva as pessoas a ganhar dinheiro por cliques, não necessariamente pela veracidade do que está dentro do conteúdo, e você acaba propagando, incentivando na verdade um modelo de geração de fatos não necessariamente científicos ou comprovados”, lamentou. O representante da Abir aproveitou a oportunidade para mencionar pesquisa feita pela Rede Rotulagem, que apontou que 70% das decisões de alimentação no Brasil atualmente têm caráter de urgência. “Nossas referências de prazer normalmente estão ao redor da mesa, então a indulgência vai continuar tendo um papel importante e o papel da indústria é atender, aliar e balancear essas demandas por produtos mais saudáveis, mas também que atendam o paladar das pessoas.”
A diretora técnica da Abimapi, Sonia Cristina Romani, mencionou que são vários os esforços para atender os anseios da população, individuais e coletivos, como a recente assinatura do acordo voluntário entre o Ministério da Saúde e a indústria de alimentos para a redução do teor de açúcar nos produtos. “Um trabalho árduo de dois anos, em que a gente pesquisou e levou oficinas técnicas, com técnicos isentos comentando toda essa parte de dificuldade tecnológica da redução de açúcar”, detalhou Sonia, que mencionou também a redução de sódio, que chegou a 30% em macarrão instantâneo.
O diretor executivo de Inovação e Tecnologia da Embrapa, Cleber Oliveira Soares, apontou como desafio melhorar a percepção dos brasileiros em relação aos alimentos industrializados, mencionado o resultado de pesquisa feita em 2016 nos grandes centros urbanos. “Apenas 23% dos brasileiros conseguem reconhecer que há inovação e tecnologia naquilo que ele consome, seja no leite, seja no feijão, seja no arroz, seja nas águas industrializadas. E olha que nós somos o celeiro do mundo: a agricultura e agroindústria sustenta um terço do nosso PIB”, comentou.
Do ponto de vista do diretor executivo da Abag, Luiz Cornacchioni, são três os principais pontos a serem levados em consideração pelo setor até 2030: o olhar da cadeia toda com elos mais harmônicos, a informação correta e o esclarecimento daquelas que estão incorretas e a consciência de que quem dita é o consumidor. “Quanto mais próximo dele, quanto mais integrados estivermos, maior será o nosso sucesso”, completou.
Tendências
Durante o seminário Alimentos 2030, também foram apontadas as tendências globais de consumo com base em uma pesquisa feito pela Euromonitor International com mais de 28 mil pessoas em 2017. “Na comparação com 2013, mais consumidores assinalaram que gastam 15 minutos ou menos na hora de preparar o jantar, então a gente vê que essa vida urbana, essa vida caótica, está cada vez mais impactando o tempo que a pessoa gasta preparando o alimento dentro do lar e isso traz uma necessidade mais forte de soluções instantâneas e não planejadas no sentido de que os consumidores estão cada vez mais valorizando o tempo deles”, observou a analista de pesquisa, Carolina Kurzweil, que destacou outras tendências como o consumo de produtos mais minimalistas ou que envolvam a preocupação com o bem-estar animal ou com o meio ambiente.