Por Jaqueline Harumi | Postado em 23/09/2020 18:10:16 | Atualizado em 30/09/2020 14:52:01
Vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) acaba de celebrar inédito acordo de cooperação da pasta com a startup viabilizando sua instalação por dois anos na instituição para realizar projetos de PD&I em parceria. Com a BioinFood, especializada em fermentos e processos fermentativos, o Ital reforçará sua competência para desenvolvimento de microrganismos que incorporem características nutricionais, funcionais e tecnológicas a alimentos e bebidas.
Com tramitação em menos de 15 dias, via Programa SP Sem Papel, para avaliação pela Consultoria Jurídica da Secretaria e Procuradoria Geral do Estado (PGE), o célere processo do acordo está amparado pelo Decreto Estadual nº 62.817/2017, que regulamentou no Estado de São Paulo a Lei Federal nº 10.973/2004, alterada pela Lei Federal nº 13.243/2016, e a Lei Complementar Estadual nº 1.049/2008. O acordo de cooperação conta com a interveniência da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag).
"Esta parceria segue linhas de atuação da instituição e insere-se no programa estratégico da Apta/SAA de Produtos, Processos e Ações Inovadoras. Reforço que o compartilhamento não interfere nas atividades da instituição, pois eram áreas consideradas ociosas por uma série de fatores, e haverá desenvolvimento conjunto com previsão de propriedade intelectual", destaca a diretora de Programação de Pesquisa e vice-diretora do Ital, Gisele Camargo.
"Com a Lei da Inovação, abriram-se muitas oportunidades para as instituições de pesquisa, para a sociedade e para o setor produtivo. Nós vamos fazer com que o conhecimento vire inovação, produto no mercado, com maior rapidez e maior eficiência, porque trabalhamos em parceria com instituições de pesquisa, com universidades, com indústrias e com startups", ressalta a diretora geral do Ital, Eloísa Garcia, que prevê os benefícios da união não só de infraestrutura como competência e cultura. "É um momento muito inspirador e acredito que essa é a primeira de muitas iniciativas", finaliza.
Inicialmente as unidades envolvidas são o Centro de Tecnologia de Laticínios (Tecnolat) e o Centro de Tecnologia de Cereais e Chocolate (Cereal Chocotec), tendo como pesquisadoras responsáveis Adriana Torres e Elizabeth Nabeshima, e estão previstos quatro projetos para desenvolvimento de levedura de fermentação de cacau, de probióticos para base de frutas e grãos e para base láctea e de fermento para a chamada massa ácida, de fermentação natural, como a do panetone e as de outros pães de casca dura.
Para Adriana, que é diretora do Tecnolat, unidade que abrigará a BioinFood, contar com apoio é fundamental. "A diretoria, desde nossa primeira conversa com a empresa, abraçou a ideia. Não sabíamos como, mas sabíamos que era possível e estamos muito felizes por isso", recorda a pesquisadora, que vê grande motivação da equipe do Tecnolat na nova parceria para inovação. "Estamos muito animados e felizes", afirma. Com experiência de projeto desenvolvido em 2018 com a BioinFood na área de pães e biscoitos, Elizabeth está otimista. "Pelo contato que tive, pude perceber a seriedade, o profissionalismo, a competência e o dinamismo da equipe da startup. Eu tenho certeza que ótimos frutos virão dessa parceria."
Fundada em 2018, a BioinFood é constituída por três engenheiros de alimentos, os doutores em Genética de Leveduras Gleidson Teixeira e Osmar Netto, que têm experiência de seis anos em pesquisa na indústria e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e sete anos em coordenação de biotecnologia na indústria, respectivamente, e Gabriel Galembeck, que atuou por 10 anos como diretor de P&D na Ambev/Imbev.
"Os fermentos são ainda muito pouco explorados no Brasil, inclusive são tratados como commodity, e existe um mundo de possibilidades, porque são organismos muito utilizados na indústria de diferentes segmentos, desde a panificação até a nutrição animal, passando por biotecnologia", lembra Osmar Netto, responsável por P&D e Operações.
"Buscamos produtos inovadores, com previsão de pagamento de royalties, retorno do investimento público, pois somos startup iniciada pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], com formação acadêmica em instituições públicas, então é nosso dever retornar esse investimento que foi feito em nós", complementa Teixeira, também responsável por P&D, além de novas tecnologias.
A BioinFood prevê na parceria formação e treinamento de profissionais, não só pela contratação de dois pesquisadores e dois técnicos como também pelo início de um ecossistema de inovação. "Queremos atrair novos projetos, novas empresas, novas startups e fazer um ambiente bem fluido de ideias, de pessoas, e gerar bastante conhecimento na nossa área e na área no Ital, incentivando outras empresas e startups", afirma Teixeira.
Novas perspectivas para o setor público
Para Álvaro Duarte, diretor presidente da Fundepag, o acordo é uma inovação na gestão da pesquisa científica e tecnológica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. "É o primeiro caso da existência de uma startup dentro do Ital e uma startup de excepcional qualidade com diretores de formação singular", frisa.
Duarte avalia que a Conexão.f, incubadora de conhecimento da Fundepag instalada em Campinas, teve papel fundamental no êxito da iniciativa, pelo relacionamento que também tem junto à PGE "facilitando a realização do que está promulgado em lei, mas ainda é muito desconhecido no meio público do Estado de São Paulo". "É uma grande honra participar dessa celebração principalmente porque trata-se de uma iniciativa inovadora dentro do ambiente de ciência e tecnologia das instituições de administração direta do Estado", diz.
O procurador Rafael Carvalho de Fassio avalia que esse é o primeiro passo rumo à inovação e que muitos outros que virão. "É muito importante ter hoje a celebração desse acordo viabilizado em tempo tão pequeno com base no que ocorre no setor público, em que se acaba demorando tanto. Bons exemplos assim são de fato ocasiões não só para celebrar o acordo como novas formas de se relacionar entre instituições e procuradoria e novas formas de se pensar na inovação no setor público", declara.
Lembrando o projeto recente da PGE de assessoramento jurídico junto aos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), que inaugurou uma nova forma de trabalho na área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I), Fassio menciona a literatura sobre empresas inovadoras "só que sem o Estado fica muito difícil superar o ‘Vale da Morte’, tirar o produto da ideia até a comercialização e a aplicação no mercado e no setor produtivo". "Temos que aproveitar essa oportunidade para mostrar quão proveitosas são cooperações entre a procuradoria e as instituições de pesquisa", ressalta.
Um dos sócios da BioinFood, Gleidson Teixeira, acredita que é possível reverter a ideia de "complicação" quando se fala em interação com instituição de ensino e de pesquisa pública. "Como startup dentro do Ital, a gente gostaria de assumir o compromisso e dizer que não estamos lá só para usar a estrutura e o acordo, mas contribuir com outras startups que virão, que queiram conhecer e entender o processo. Nós somos entusiastas desse tipo de acordo, para que as coisas mudem e mais e mais interações ocorram. Nossa intenção é que o Ital pulse."