Postado em 17/08/2007 00:00:00
Todos conhecem a decepção de comprar uma fruta atraente, de aparência suculenta e, ao chegar em casa e dar a primeira mordida, perceber que ela está seca. O armazenamento em câmaras frias pode provocar essa situação com o pêssego ‘Douradão’, uma variedade especialmente viçosa e atraente para o consumidor. O frio pode ocasionar na fruta uma mudança fisiológica conhecida como lanosidade, por conferir a ela uma textura semelhante à de um novelo de lã. Além disso, o pêssego, por suas características bioquímicas, fisiológicas e fitopatológicas é altamente perecível, o que justifica a necessidade de uma armazenagem refrigerada. Forma-se, então, um impasse: o pêssego necessita do frio, mas o frio pode lhe causar dano. Para buscar um caminho diante dessa questão, uma alternativa que surge é a utilização de atmosfera controlada ou modificada, com concentrações de oxigênio e gás carbônico favoráveis à conservação da fruta. A utilização de atmosfera controlada na conservação pós-colheita do pêssego ‘Douradão’ foi estudada por pesquisadores do ITAL (APTA/SAA)* em projeto de iniciação científica premiado no Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica. O estudante de engenharia química Estevo Politano realizou o trabalho sob a orientação do pesquisador José Maria Monteiro Sigrist. A pesquisa foi uma parceria com a Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp e contou com a colaboração da doutoranda Ligia R. R. de Santana e do professor Benedito Carlos Benedetti. Foi, deste modo, realizada uma colheita cuidadosa de pêssegos escolhidos segundo características como estádio de amadurecimento, tamanho e ausência de alterações. Esse processo, segundo os pesquisadores, é de extrema importância para a obtenção de uma maior vida útil do pêssego. “Não existem técnicas de conservação pós-colheita que melhorem a qualidade do produto no momento da colheita. Aquele que colheu o produto de péssima qualidade não vai conseguir uma vida útil longa, nem utilizando refrigeração e atmosfera controlada”, alerta Sigrist. Posteriormente, os pêssegos foram armazenados em câmaras frigoríficas e mini-câmaras herméticas sob atmosfera controlada. Foram observadas as seguintes características: perda da massa, índice de podridão, cor e firmeza da polpa, índice de lanosidade, teor de suco, sólidos solúveis, pH e acidez titulável. Os resultados apontaram uma vida pós-colheita de 28 dias sob armazenamento refrigerado em atmosfera controlada e inferior a 14 dias para o armazenamento sob condições ambiente. A conclusão revelou vantagens tanto para o consumidor, que passa a ter um produto de qualidade, quanto para o produtor, que tem um ganho sobre o período da safra, podendo prolongar o escoamento de sua produção e, com isso, atingir melhores preços. A aplicação é imediata, embora a técnica utilizando as câmaras frias tenha um custo mais elevado – mediante aos mecanismos necessários para controlar a atmosfera em seu interior. Mas, para contornar esse obstáculo, os pesquisadores vão dar continuidade à pesquisa trabalhando com uma alternativa que vai baratear os custos, tornando a utilização da atmosfera modificada mais acessível a pequenos produtores. Isso deve ocorrer com a manutenção das concentrações de oxigênio e gás carbônico em embalagens plásticas. “Estabelecemos as melhores condições de atmosfera em um primeiro momento e obtivemos resultados bons com essas porcentagens. Vamos, agora, aplicar o produto em um filme plástico que vai permitir manter essa atmosfera durante o armazenamento”, revela Lígia. A expectativa é que esse procedimento aumente ainda mais o período de conservação do pêssego e, ao mesmo tempo, barateie o custo para o produtor. A técnica de atmosfera modificada já é utilizada em outras frutas e hortaliças e demonstra ir ao encontro das exigências crescentes do consumidor por produtos seguros e de qualidade. Nesse cenário, pode-se, inclusive, imaginar que frutas características de algumas regiões do País possam atingir outros mercados, possibilitando uma ampliação de sua comercialização. “Mas as concentrações recomendadas de oxigênio e gás carbônico podem ser diferentes entre variedades da mesma espécie de frutas”, alerta Estevo. Deste modo, existe a necessidade da realização de pesquisas para determinar as especificidades de cada produto. *Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios / Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo Material produzido pela Assessoria de Comunicação Mais informações: 19.3743.1757