Postado em 08/11/2006 00:00:00
O marketing verde correto é uma ferramenta publicitária que permite a diferenciação de um determinado produto em relação aos seus concorrentes através da utilização de benefícios ou menores danos ambientais. Nem sempre, porém, esse tipo de marketing possui uma base técnica e é calcado em informações corretas. O uso da biodegradação, que criou entre os consumidores uma idéia de que o produto biodegradável seria, por si só, benéfico para a natureza, é um exemplo disso. Mas, pesquisadores do Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA) demonstram que a supervalorização de materiais plásticos degradáveis é um equívoco. #O pesquisador Guilherme Castilho de Queiroz explica que, embora o processo possa dar a aparência de que uma embalagem deixe de ser um problema de resíduo sólido, pode emitir para o ar substâncias que contribuem para o aquecimento global, causar a redução do oxigênio disponível na água, entre outras implicações. Queiroz localiza as origens do engano do consumidor em campanhas publicitárias segundo as quais o detergente bom era o biodegradável, em função de uma captação e tratamento de esgoto adequados. Esse conceito é correto para produtos que necessariamente vão para a água, como o detergente, xampus, amaciantes etc. “No entanto, em função desse histórico, o consumidor absorveu a idéia. Então, algumas empresas que querem atender um mercado específico, lançam um produto nesse sentido, como se também fosse uma solução adequada para resíduo sólido, aproveitando uma cultura que foi criada”, conta o pesquisador. Queiroz esclarece, ainda, que outra causa dessa valorização excessiva de embalagens degradáveis é um deslocamento daquele que deveria ser o foco principal da discussão acerca do gerenciamento dos resíduos sólidos. “Fomos educados ouvindo que é um problema que os produtos ficam tantos anos na natureza. Esqueceram de dizer que não era para jogar na natureza”, afirma. Isso quer dizer que, antes da biodegradação – que em casos específicos realmente pode gerar benefícios – outras condutas mais eficientes e benéficas devem ser estimuladas. A primeira delas é a redução da geração dos resíduos sólidos. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que a quantidade de lixo produzida diariamente no Brasil naquele ano chegava a 228.413 toneladas. Segundo o pesquisador do CETEA, diminuir essa quantidade passa pelo conceito de consumo sustentável, que deve ser aplicado tanto pelo consumidor quanto pela indústria no sentido de minimizar e, se possível, eliminar o desperdício. Entre as possibilidades benéficas para melhorar a destinação dos resíduos sólidos está a reciclagem. “Muito mais interessante que a biodegradação é reciclar e investir para que seja feita a separação e a coleta. Deve-se cuidar para que esse material seja usado o máximo possível para evitar que sejam tirados recursos não renováveis da natureza”, explica Queiroz. #Isso não quer dizer, porém, que os materiais biodegradáveis não tenham sua função, mas ela fica restrita a fins muito específicos. “No mínimo, é preciso saber que ser biodegradável não quer dizer ser bom para o meio ambiente”, alerta o pesquisador. A biodegradação pode ser interessante, por exemplo, quando além da diminuição da geração de resíduos e da reciclagem dos materiais, é implantado um sistema de compostagem do lixo orgânico (restos de alimentos). Mas, como essa não é uma realidade significativa no Brasil, não justifica a cultura do biodegradável. Caso o plástico degradável seja deixado em aterros, por exemplo, pode, ao contrário, tornar-se maléfico para a natureza. Há, inclusive, a possibilidade de emitir metano na atmosfera, o que pode provocar explosões e contribuir para o agravamento do efeito estufa. Aproveitar esse metano como recurso energético poderia ser uma alternativa, mas isso também quase não ocorre no País hoje de maneira eficiente, com a revalorização via recuperação energética com eficiência ambiental e econômica, como a venda de energia. O oxigênio consumido na degradação também pode diminuir a taxa de oxigênio em rios e causar a morte de peixes. Além disso, se ela começar a ocorrer assim que a embalagem passa pela extrusão, as cadeias do polímero começam a ser quebradas, o que facilita a migração do material da embalagem para o produto. Isso poderia ser prejudicial, principalmente quando se pensa numa probabilidade de contaminação acidental de alimentos. Assim, mais do que uma alternativa “milagrosa”, como a biodegradação passou a ser vista, o que pode realmente trazer benefícios ao meio ambiente é um Gerenciamento Integrado do Resíduo Sólido voltado para aspectos como a redução, reutilização, reciclagem e recuperação energética. Qualquer coisa fora dele pode confundir o consumidor e prejudicar a educação ambiental em prol de uma propaganda que, muitas vezes, não se baseia em conhecimentos técnicos. Material produzido pela Assessoria de Comunicação Foto: Antônio Carriero Mais informações: 19.3743.1757