Por Jaqueline Harumi | Postado em 06/10/2021 19:20:11 | Atualizado em 09/11/2021 09:10:53
Com investimento de aproximadamente R$ 2,7 milhões do Plano de Desenvolvimento Institucional em Pesquisa (PDIP), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), os laboratórios de Estudos de Voláteis, Destilação Molecular, Biotecnologia e Cultura Celular e Biologia Molecular do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) foram inaugurados em evento on-line nesta terça-feira (5), ampliando o leque de atuação da instituição em pesquisa, desenvolvimento e inovação no setor de alimentos, bebidas, ingredientes e embalagem.
“Significa muito para o Ital de hoje e para a contribuição que certamente ofereceremos para o futuro da ciência e qualidade dos alimentos”, afirmou Eloísa Garcia, diretora geral do Instituto, que é vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. A dirigente aproveitou para destacar a atuação do secretário Itamar Borges, quem considera acreditar “no valor e na importância estratégica dos institutos de pesquisa para a competitividade e sustentabilidade do agronegócio do estado de São Paulo e do Brasil”, tendo ressaltado também o papel do coordenador da Apta, Sergio Tutui. “Está nos liderando no processo de modernização e de modelagem das nossas instituições para que nosso futuro seja tão grande e talvez ainda mais significativo do que foi no nosso passado que nos orgulha tanto”, observou.
Para Itamar Borges, a estrutura inaugurada vem para fortalecer e qualificar ainda mais a atuação do Ital no setor de alimentos. “A Fapesp tem um valor e uma importância muito grande para nós, conduzindo parcerias há muito tempo e que somam ao investimento que anunciamos de R$ 52 milhões para este ano”, frisou. A opinião é compartilhada por Sergio Tutui, que considera o Instituto assertivo na modernização de plantas e laboratórios de forma a estarem aptos a desenvolver pesquisas, produtos e processos que atendam necessidades.
“No ambiente de inovação, entre os ‘startupeiros’, tem uma expressão que diz que 'o mundo é vuca', porque ele é volátil, incerto, caótico e ambíguo. E, apesar de todas essas dificuldades, faz parte do nosso trabalho, da ação da pesquisa, de uma instituição de pesquisa como o Ital, trabalhar para a gente facilitar essa volatilidade, reduzir essas incertezas e dar razão ao ambiente caótico. Para isso, temos que pensar o futuro e nos preparar para ele”, discursou o coordenador da Apta.
A diretora do Centro de Ciência e Qualidade dos Alimentos (CCQA), onde estão situados os novos laboratórios, citou nominalmente os pesquisadores da unidade técnica de forma a representar todos os colaboradores que tornaram possível a concretização das novas áreas, incluindo auxiliares, técnicos, assistentes e o suporte administrativo. “Se não fosse o aporte de toda a equipe nada disso seria possível”, lembrou Roseli Ferrari, deixando as portas abertas a interessados em conhecer de perto o que há de mais moderno na instituição para PD&I – entre em contato.
Estudos de Voláteis
Sob responsabilidade da pesquisadora científica Aline Garcia, o Laboratório de Estudo de Voláteis conta com o equipamento multiusuário GC-O-MS/MS, com alta sensibilidade para identificação de substâncias voláteis nos alimentos como contaminantes formados durante o processamento, resíduos de pesticidas e substâncias desconhecidas ou indesejadas provenientes da embalagem. As análises do laboratório também contribuirão com pesquisas sobre compostos voláteis com potencial odorífero com foco, por exemplo, na aplicação de subprodutos da agroindústria e no acompanhamento de indicadores de degradação ao longo da vida útil dos alimentos.
No presente, usa o novo equipamento pesquisa sobre a previsão da qualidade global do café, realizada por Wellington Oliveira, bolsista de pós-doutorado do Ital. O pesquisador colaborador está identificando quais substâncias têm o poder de impactar no aroma da bebida de café. “Isso é importante tanto para melhorar a qualidade do nosso produto quanto para direcionar determinadas culturas a fim de compor blends, para caracterizar esse produto com uma nota floral, frutado ou de diferentes notas aromáticas, que acabam agregando o valor do produto comercializado no Brasil, que acabam se equiparando com outros cafés já comercializados com essas notas”, detalhou.
Destilação Molecular
Já sob a liderança do pesquisador científico Paulo Carvalho, o Laboratório de Destilação Molecular conta com um novo modelo de destilador que concentra em um único corpo destilação e condensação, permitindo que esse processo seja feito com temperaturas muito mais baixas do que na destilação convencional, sendo mais eficiente para separação e fracionamento de substâncias como vitaminas e pigmentos presentes em produtos e subprodutos da indústria de alimentos.
“Estamos com dois projetos em andamento. Um é a obtenção da fração azul do óleo de urucum, em parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas, que fará os estudos farmacológicos dessa fração como suas atividades proliferativa, anti-inflamatória e analgésica. No final desse fracionamento sobra uma cera, cuja aplicação está sendo estudada em projeto de pós-doutorado para o recobrimento de frutas”, detalhou.
Pesquisador Paulo Carvalho com destilador molecular ao fundo (crédito: Antonio Carriero/Ital)
Biotecnologia e Cultura Celular
O Laboratório de Biotecnologia e Cultura Celular por sua vez, possibilitará obter e testar os componentes dos alimentos que produzem efeitos benéficos à saúde, como substâncias anti-inflamatórias, antitumorais, hipotensoras e antioxidantes, usando diferentes modelos de células animais ou humanas cultivadas em laboratório.
“Atuaremos na pesquisa de novos compostos bioativos provenientes não só dos alimentos como dos subprodutos da agroindústria e, com isso, contribuir com a redução do impacto ambiental e também reduzir investimentos de descartes dos resíduos industriais, como soro de leite, casca de amendoim e subprodutos da extração do óleo de girassol, promovendo adição de valor ao agronegócio”, relatou a pesquisadora científica Maria Teresa Bertoldo Pacheco, que é responsável pela área ao lado do pesquisador científico Marcelo Morgano, lembrando que as pesquisas a serem desenvolvidas também podem ser uma primeira etapa para o desenvolvimento de suplementos e fármacos.
Um exemplo mencionado é o projeto em andamento da pesquisadora colaboradora Fabiana Galland, bolsista jovem pesquisadora da Fapesp, dedicado à avaliação de peptídeos multifuncionais com atividades na prevenção a doenças crônico-degenerativas, tendo como base o soro do leite.
Jovem pesquisadora Fernanda Galland usando leitor de microplacas (crédito: Antonio Carriero/Ital)
Biologia Molecular
Por fim, o Laboratório de Biologia Molecular possibilitará uma identificação mais precisa de microrganismos que podem contaminar os alimentos, responsáveis pela sua deterioração e/ou por causar doenças de origem alimentar. “Essas características morfológicas e bioquímicas são sobrepostas em grande parte dos microrganismos, principalmente quando trabalhamos com bactérias e leveduras. Nesses casos então, é necessária a utilização de dados de sequência de DNA, que permitem uma identificação mais acurada e robusta da espécie”, esclareceu o pesquisador colaborador Josué José da Silva, bolsista de pós-doutorado com financiamento da Fapesp que atua na área.
“Ter o conhecimento da espécie é importante. Vamos saber se é uma espécie patogênica ou deteriorante e ter o conhecimento se ela é termorresistente, apresenta resistência aos conservantes ou capacidade de crescer em atividade de água baixa ou se é uma espécie produtora de toxinas. São informações que complementam e vão auxiliar o produtor que está com problema ou então desenvolvendo um novo produto”, detalhou a pesquisadora científica Beatriz Thie Iamanaka, responsável pela Unidade Laboratorial de Referência em Microbiologia, onde o novo laboratório está instalado.
Pós-doutorando Josué José da Silva usando centrífuga de bancada (crédito: Antonio Carriero/Ital)