Postado em 23/08/2019 16:57:08 | Atualizado em 02/10/2019 10:08:57
“A sustentabilidade, a mudança do comportamento do consumidor e a adequação que as empresas estão fazendo: é muito importante iniciar esse debate”, ressaltou Luis Madi, diretor de Assuntos Institucionais do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), durante a mediação da plenária de abertura da Arena Fispal Tec na 35ª Feira Internacional de Tecnologia para a Indústria de Alimentos e Bebidas (Fispal Tecnologia), na capital paulista.
O debate contou com a participação de representantes das associações brasileiras da Indústria de Alimentos (Abia) e das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), da Nestlé, da J.Macêdo, da Tetra Pak, da Ambev e da Coca-Cola. Vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o Ital atuou pela terceira vez na coordenação técnica da plenária, que nesta edição teve o foco em operações e produtos mais sustentáveis e influência da mudança de comportamento de consumidores NO direcionamento estratégico.
Para introduzir os temas, Madi relembrou o estudo Brasil Food Trends 2020 feito pelo Ital em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em 2010, quando a equipe do Ital constatou cinco macrotendências: Sensorialidade e Prazer, Saudabilidade e Bem-Estar, Conveniência e Praticidade, Confiabilidade e Qualidade, e Sustentabilidade e Ética. À época a mais importante era Conveniência e Praticidade, na atual conjuntura seria Saudabilidade e Bem-Estar e em 2030 sem dúvida seria Sustentabilide e Ética. “Tem uma exigência internacional muito grande: se o Brasil quiser ser um grande player na indústria de alimento, bebida e embalagem, a sustentabilidade vai ser exigência”, frisou.
A diretora de Marketing da Tetra Pak, Vivian Leite, mencionou importantes iniciativas alinhadas às expectativas do consumidor em relação ao tema em pesquisa feita pela Ipsos. “Além de obviamente fornecer um produto sustentável como opção – NO nosso caso, 100% reciclável, 82% do material de fonte renovável –, é preciso também pensar o que a gente pode fazer em relação à sociedade”, lembrou Vivian, mencionando a adoção do Design FOR Environment em serviço, processo e embalagem, o que agrega valor na funcionalidade e produtividade, mas também NO retorno para o meio ambiente, e AS ações de educação ambiental em escolas, comunidades e cooperativas, que contribuem para o aumento da quantidade de material destinado para reciclagem.
Outra medida da TetraPak é levar ao consumidor o conhecimento dessas informações. “A gente coloca 12 milhões de embalagens NO mercado todo ano. Por que não usar essas embalagens como meio de comunicação com o consumidor? Estamos com uma campanha de sustentabilidade nas embalagens usando realidade aumentada, que é uma coisa mais divertida e interessante para o consumidor, em que ele vai conversar com pessoas que participam dessa cadeia de reciclagem e como ela impacta positivamente na vida dela”, exemplificou.
A diretora de Sustentabilidade da Coca-Cola, Andrea Mota, citou a nova postura tomada em relação à embalagem retornável, mais acessível e mais barata, em algumas situações. “Essa embalagem sempre teve o apelo da sustentabilidade, mas a gente nunca tinha explorado isso de uma forma direta”, comentou. Segundo Andrea, AS retornáveis representam 20% das vendas. “Ser sustentável é um bom negócio e tem que tirar ela lá do cantinho do ‘departamento verde’, que faz coisas legais: é bom para a sociedade e se retroalimenta”, opinou.
Já Walter Faria Júnior, presidente executivo da J.Macêdo, destacou a presença da sustentabilidade em diferentes aspectos na empresa. “Nós temos dividida em três pilares: Segurança, a segurança alimentar, dos nossos funcionários, trabalhar num padrão de qualidade, manufatura, procedimentos e práticas internas; Saúde, não só alimentar, mas interna e aquilo que a gente provoca na comunidade; e o Meio Ambiente, trabalhando pela evolução contínua e por um processo que a gente consiga realmente ter rastreabilidade de todo nosso impacto em cada uma dessas frentes.”
A opinião é compartilhada por Flávio de Souza, vice-presidente jurídico, Compliance Officer e Assuntos Institucionais e Relações Governamentais da Nestlé. “A questão da ética, da transparência, da integridade, eu vejo num âmbito de sustentabilidade de forma mais ampla e vejo a empresa atuando e fazendo AS coisas de uma forma certa. Há uma segunda dimensão e não menos importante: fazer a coisa certa pela razão certa, um propósito. Não adianta a empresa cumprir a lei, AS normas, respeitar seus empregados, os fornecedores e os clientes, mas por que ela faz aquilo?”, disse. Para o Souza, “se uma ou mais empresas não conseguir identificar sua razão de ser e seu propósito vai ter problemas para ter uma evolução sólida das suas atividades, negócios e operações NO longo prazo.”
O vice-presidente de Sustentabilidade da Ambev, Rodrigo Figueiredo, acredita que a tecnologia é uma grande aliada. “A questão de AS empresas, o mundo empresarial, abraçar essa causa de peso genuíNO não só agrada o consumidor que está cada vez mais consciente por medida mais urgente: passa por essa transformação de fazer realmente aquilo que a tecnologia está permitindo a gente fazer. Falo que a tecnologia sempre vence e acredito que dá para fazer todas AS características dos bens de consumo que o consumidor quer, inclusive o preço e a sustentabilidade aderida.”
Melhor comunicação com o consumidor
“O consumidor nunca esteve tão bem informado, a ciência e tecnologia de alimentos, bebidas e embalagem nunca esteve tão bem desenvolvida e nós não estamos conseguindo fazer isso chegar ao consumidor e temos que fazer”, ressaltou Madi, que atua há 47 anos NO Ital. “Não falam da segurança dos alimentos, porque parece que é coisa do passado e é de onde veio a indústria de alimentos, é para isso que existe a indústria de alimentos”, observou.
O presidente executivo da Abia, João Dornellas, reconheceu a dificuldade de levar uma mensagem clara para todos sobre a importância dos alimentos industrializados. “A gente sabe que existem pessoas que não querem ouvir, que fecham completamente naquela ideia fixa contra um produto, um tipo de indústria”, comentou Dornellas, que vê na transparência o melhor caminho. Dentre AS iniciativas, mencionou a Rede Rotulagem, formada por 20 entidades ligadas ao setor de alimentos e bebidas para participar ativamente do processo de revisão de normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a adoção de um novo modelo de rotulagem nutricional NO Brasil.
Ela afirmou que AS questões de saúde como AS doençAS crônicas não transmissíveis, em especial a obesidade, são uma preocupação, apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhecer terem causas variadas como a alimentação sem variedade e em demasia, o sedentarismo e a falta de sono. “Estamos trabalhando NO sentido de que a melhor informação esteja presente NO rótulo dos alimentos, principalmente os macronutrientes que a gente sabe ter uma relação direta, o açúcar, o sódio e AS gorduras, que devem ter seu consumo equilibrado”, detalhou o presidente da Abia, que defende, junto à Rede, o modelo do semáforo, preferido também por sete em cada dez entrevistados em pesquisa nacional do Ibope Inteligência.
O presidente executivo da Abimapi, Cláudio Zanão, lembrou também dos acordos para redução de gordura trans, sódio e açúcar, e do trabalho para definição do produto integral. “É uma questão de cultura: você aprendeu daquela maneira e para mudar não é fácil. A dificuldade é muito grande para mudar o estilo de vida”, comentou.
Flávio de Souza, da Nestlé, lembrou que a nutrição é uma ciência que evolui ao longo do tempo, sendo a segurança e a qualidade questões fundamentais, e a inovação na indústria envolve não só desenvolvimento, novas tecnologias e embalagens como a forma de comunicação. “Nos últimos anos, nós estamos vendo novas tendências de consumo de alimentos, a forma de consumir, tamanhos de embalagem e o que está atrelado a tudo isso”, mencionou. “O grande ponto é como evoluir transmitindo ao consumidor, à sociedade, ao indivíduo, todos esses temas de uma forma simples. AS empresas têm que evoluir de uma comunicação mais comercial, institucional, para uma comunicação mais social.”
Forte atuação
AS discussões ocorreram logo após o discurso do governador João Dória sobre a necessidade do estímulo à realização de negócios, redução de burocracia e apoio a microempreendedores. “Não há outro caminho que não seja empenho e foco, trabalho e dedicação”, ressaltou Dória, mesmo pensamento do economista Ricardo Amorim, que realizou a palestra oficial do evento. “Não existe moleza. O que existe é condições melhores e piores. Independente do que vai acontecer. É trabalho bem feito ou não.”
Nesse contexto, o presidente da Abia enfatizou a forte presença da indústria de alimentos NO setor industrial brasileiro, transformando quase 60% do que produz o campo brasileiro. “Nós representamos 26% da indústria brasileira. É o maior gerador de empregos dentro da área industrial: 1,6 milhão empregos diretos e 9 milhões somados diretos e indiretos. A indústria de alimentos NO Brasil também contribuiu NO ano passado com 50% do total do superávit da balança comercial: o Brasil teve 58 bilhões de superávit e 29 bilhões vieram da indústria de alimentos.”
A Fispal Tecnologia
Organizada pela Informa Exhibitions, a 35ª Fispal Tecnologia teve 39.370 mil visitantes e ultrapassou 1,5 mil marcas expositoras entre 25 e 28 de junho, no São Paulo Expo Exhibition & Convention Center, com diversificado mix de produtos, inovações e tendências em três setores: Embalagem, Processo e Logística, Automação e Acessórios.
Dentre AS 12 atrações do evento, a Arena Fispal Tec, onde a plenária de abertura ocorreu, foi palco de palestras gratuitas e quatro fóruns voltados para os gestores das áreas de embalagem, indústria de bebidas, indústria alimentícia e marketing digital, dentre eles o Fórum de Embalagens, em que a pesquisadora Leda Coltro, do Ital, abordou alternativas para substituição ao plástico tradicional.